O uso precoce e inadequado das redes sociais por crianças e adolescentes tem sido objeto de crescente preocupação devido aos seus potenciais impactos negativos no comportamento e na saúde mental desses jovens. Diversos estudos apontam para uma associação entre o uso excessivo dessas plataformas e o desenvolvimento de transtornos como depressão maior e ansiedade.
Impactos no Comportamento Infantil
A exposição contínua às redes sociais pode influenciar negativamente o comportamento de crianças e adolescentes de várias maneiras:
- Comparações Sociais e Baixa Autoestima: A constante visualização de vidas idealizadas nas redes pode levar os jovens a se compararem desfavoravelmente com os outros, resultando em sentimentos de inadequação e baixa autoestima. Um estudo publicado na Revista Brasileira de Educação Médica destaca que o uso descontrolado da internet está associado a sintomas de ansiedade e depressão em estudantes, sugerindo que o padrão desadaptativo de uso, mais do que o tempo gasto online, é prejudicial (MOROMIZATO et al, 2023).
- Cyberbullying: As plataformas digitais podem ser palco de comportamentos agressivos, como o cyberbullying, que afetam profundamente a saúde mental dos jovens, aumentando o risco de depressão e ansiedade. Uma revisão narrativa realizada na Universidade Federal de São Paulo identificou que o uso excessivo das redes sociais está relacionado ao surgimento ou agravamento de transtornos psicológicos, incluindo depressão e ansiedade, além de comportamentos de isolamento social (GIL, 2024).
- Pressão por Aceitação Social: A busca por validação através de curtidas e comentários pode gerar ansiedade e estresse, especialmente quando a resposta esperada não é alcançada. Estudos indicam que adolescentes que utilizam as redes sociais de forma excessiva podem desenvolver sintomas de ansiedade e depressão devido à pressão por aceitação social e à exposição a conteúdos prejudiciais (FARIA et al, 2024).
Desenvolvimento de Transtornos Mentais
O uso inadequado das redes sociais está associado ao desenvolvimento de transtornos mentais em jovens:
- Depressão: A exposição a conteúdos que promovem comparações sociais negativas e a experiências de cyberbullying são fatores que contribuem para o desenvolvimento de sintomas depressivos. Uma pesquisa publicada na Revista Brasileira Interdisciplinar de Saúde encontrou uma relação entre o uso excessivo de redes sociais e o aumento de sintomas depressivos em jovens (MOURA et al, 2024).
- Ansiedade: A necessidade constante de estar conectado e a preocupação com a imagem projetada online podem levar ao aumento da ansiedade. O estudo mencionado anteriormente na Revista Brasileira de Educação Médicatambém identificou uma correlação entre o uso descontrolado da internet e a presença de sintomas ansiosos em estudantes de medicina (MOROMIZATO et al, 2023).
Fatores Contribuintes
Alguns fatores que potencializam esses efeitos negativos incluem:
- Tempo de Tela Excessivo: O uso prolongado das redes sociais pode levar ao isolamento social e à redução do tempo dedicado a atividades saudáveis, como exercícios físicos e interações presenciais. Uma revisão narrativa destacou que o uso abusivo de redes sociais está associado a impactos negativos na saúde mental, como transtornos psiquiátricos e isolamento social (GIL, 2024).
- Privação de Sono: O uso das redes sociais durante a noite pode interferir no sono, resultando em fadiga e comprometimento cognitivo, fatores que contribuem para o desenvolvimento de sintomas depressivos e ansiosos. Um estudo apresentado no Congresso Nacional de Saúde identificou que crianças e adolescentes que utilizam a internet por longos períodos são mais propensos a desenvolver transtornos do humor e privação de sono (FREITAS et al, 2023).
Recomendações
Diante desses achados, é fundamental que pais, educadores e profissionais de saúde adotem medidas para mitigar os efeitos negativos do uso das redes sociais:
- Educação Digital: Instruir crianças e adolescentes sobre o uso responsável das redes sociais, enfatizando a importância de limites de tempo e da consciência sobre os conteúdos consumidos.
- Supervisão Parental: Os pais devem monitorar as atividades online de seus filhos, estabelecendo regras claras e incentivando o diálogo aberto sobre experiências digitais.
- Promoção de Atividades Alternativas: Estimular a participação em atividades offline, como esportes, leitura e interações sociais presenciais, para equilibrar o tempo gasto nas redes sociais.
Em suma, embora as redes sociais ofereçam benefícios, é crucial reconhecer e abordar os riscos associados ao seu uso precoce e inadequado por crianças e adolescentes, visando proteger e promover a saúde mental dessa população.
Fontes:
- https://doi.org/10.1590/1981-52712015v41n4RB20160118;
- GIL, Luana Diogo. Os impactos à saúde mental causados pelo uso de redes sociais digitais em adolescentes e jovens adultos: uma revisão narrativa. 2024. 28 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Psicologia) – Universidade Federal de São Paulo, Instituto de Saúde e Sociedade, Santos, 2024;
- https://doi.org/10.69849/revistaft/ma10202411161915;
- https://doi.org/10.51161/conaisa2023/25556;
- https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n7p2602-2611.
Leitura adicional:
- KROSS, Ethan et al. Facebook Use Predicts Declines in Subjective Well-Being in Young Adults. PLoS ONE, v. 8, n. 8, p. e69841, 2013.
- LIN, Liu yi et al. Association between Social Media Use and Depression among U.S. Young Adults. Depression and Anxiety, v. 33, n. 4, p. 323-331, 2016.
- ROYAL SOCIETY FOR PUBLIC HEALTH. #StatusOfMind: Social media and young people’s mental health and wellbeing. Londres: RSPH, 2017.
- ODGERS, Candice L.; JENSEN, Meredith R. Adolescent Mental Health in the Digital Age: Facts, Fears, and Future Directions. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 61, n. 3, p. 336-348, 2020.
- KIM, Ji Hyun Psychological Issues and Problematic Use of Social Media: The Mediating Effects of Self-Esteem and Self-Presentation. Journal of Health Psychology, v. 22, n. 11, p. 1265-1273, 2017.